domingo, 15 de julho de 2007

Hiper inflação amplia caos no Zimbabué

O Estado de S. Paulo, sexta-feira, 22 de Junho de 2007

Hiper inflação amplia caos no Zimbabué
The Guardian e Reuters

Harare - Além de enfrentar um dos ditadores mais corruptos da África -
Robert Mugabe, que comanda o Zimbabué há 27 anos, desde a independência da
Grã-Bretanha -, a população do país sofre com a maior inflação do mundo:
4.500% ao ano pelas estatísticas oficiais, ou até 11.000%, segundo
economistas. Estima-se que, só em Maio, o índice foi de 100%. Se os preços
continuarem dobrando a cada 30 dias, como no mês passado, o país deverá
acumular uma inflação de 410.000% nos próximos 11 meses.

O embaixador americano Christopher Dell calcula que esse índice pode atingir
até 1.500.000% em 12 meses.

A economia do país já entrou em colapso. O desemprego atinge 80% da
população. Os que ainda estão empregados vêem seu salário evaporar a cada
dia. Muitos estão indo para o trabalho a pé por falta de dinheiro para o
ônibus. Alguns trabalhadores chegam à fábrica ou ao escritório na
segunda-feira, dormem no local até a sexta e dividem as refeições, para
economizar. Outros recorrem ao escambo.

Apesar da situação insustentável, Mugabe não pretende abandonar o poder. Ele
ainda persegue a oposição com truculência e começa a perder apoio até de
seus principais aliados no Exército.

No mês passado, o ditador decidiu racionar o fornecimento de energia
eléctrica nas cidades, redireccionando-a para a irrigação agrária. A área
rural é seu último reduto.

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O Estado de S. Paulo, sábado, 23 de Junho de 2007
Activistas pedem acção do Brasil
Mariana Della Barba

O médico Henry Madzorera e o advogado Tafadzwa Mugabe são dois zimbabueanos
que desembarcaram em São Paulo para desvendar o que consideram um mistério:
por que o Brasil se absteve, por três vezes consecutivas, na votação de um
conselho especial da ONU para examinar as violações de direitos humanos no
Zimbabué.

De acordo com o Itamaraty, "o Brasil defende a prevalência do direito
humanitário no Zimbabué, mas nas votações preferiu agir com cautela e se
absteve, já que não havia um consenso entre os países africanos".

 

segunda-feira, 9 de julho de 2007

A revolta silenciosa

O Globo, sábado, 23 de junho de 2007

A revolta silenciosa
Gilberto Scofield Jr.

Pequim - Quando se pergunta a um chinês de 20 a 30 anos de idade se ele
conhece alguém que tenha sido afectado pela campanha antidireitista de 1957,
a resposta geralmente é "não sei do que você está falando" (a maioria) ou
"me disseram que eram traidores e ainda bem que eu não conheço ninguém" (uns
poucos).

Em Julho daquele ano, uma campanha intensiva de propaganda foi lançada nos
jornais estatais tachando de direitistas todos os membros do partido,
intelectuais, estudantes e cientistas que criticavam o regime.

Nada menos que 300 mil chineses foram condenados a prisões, campos de
reeducação pelo trabalho, exílio no campo e humilhações que levaram dezenas
ao suicídio.

Mas se este ano, quando a campanha antidireitista completa 50 anos, a
determinação do governo continua sendo o silêncio, um grupo de direitistas
decidiu acertar contas com o passado e exigir uma retratação.

Em março, mais de 60 sobreviventes da campanha assinaram uma carta aberta,
enviada ao PCC, ao Congresso Nacional do Povo (CNP) e ao Conselho de Estado
da China, o órgão com poderes executivos, em que pedem às autoridades que
reconheçam os abusos, acabem com a censura ao tema na mídia e nas escolas e
garantam compensações morais e financeiras às vítimas ou às suas famílias.

As vítimas são muitas, gente que sofreu na campanha antidireitista, na
Revolução Cultural, no massacre da Praça da Paz Celestial e até no Grande
Salto Adiante.