Empresários de Bragança contratam reclusos da prisão local
Esta notícia tem uns meses, mas mostra bem o País que temos. Para se arranjar vontade de trabalhar à que ir primeiro uns meses até à cadeia.
Empresários de Bragança contratam reclusos da prisão local
Empresários de Bragança estão a recorrer aos reclusos do estabelecimento prisional local para colmatar a falta de mão-de-obra que afecta o distrito e que nem os centros de emprego conseguem resolver.
«Recorre-se ao centro de emprego e não se encontra ninguém. Pode aparecer lá muita gente desempregada, mas não aparece lá ninguém que queira trabalhar», disse à Lusa Eurico Afonso, proprietário de uma serralharia em Bragança, que se prepara para incluir um recluso nos quadros da empresa.
O novo funcionário está a acabar de cumprir pena e já se encontra a trabalhar na empresa ao abrigo do chamado «regime aberto» dos Serviços Prisionais.
Este regime permite a alguns reclusos, depois de ponderados factores como o bom comportamento, trabalhar no exterior enquanto cumprem pena, regressando à cadeia depois do horário laboral.
Eurico Afonso soube desta oportunidade quando a sua empresa efectuou trabalhos no estabelecimento prisional de Bragança.
Manifestou vontade de aderir e a direcção da cadeia disponibilizou um recluso para a serralharia.
O empresário está satisfeito com o trabalho do recluso e sobretudo com a sua motivação, incomparável com a atitude que tem encontrado em desempregados contactados através do centro de emprego.
A empresa tem 13 funcionários e precisa de mais «meia dúzia, mas ninguém quer trabalhar», desabafou, afirmando não compreender esta indisponibilidade, perante os números do desemprego do país e os salários oferecidos nesta actividade, que podem ascender a 1.500 euros.
Mas Eurico Afonso não é único em Bragança: Amândio Maduro, um empresário do ramo da electricidade, já teve a trabalhar consigo três reclusos e lamenta ainda não ter conseguido convencer nenhum a ficar depois de cumprir a pena, enquanto Carlos Parada, um empreiteiro de Izeda, trabalha com cinco reclusos.
Dos 94 reclusos da cadeia de Bragança, 26 encontram-se a trabalhar em nove «patrões», entre os quais se inclui a Câmara Municipal.
Um dos reclusos que se encontra neste regime, e que preferiu manter o anonimato, tem 27 anos e está trabalhar, há três meses e meio, numa serralharia.
«É uma experiência excelente. Depois de tanto tempo fechado, é óptimo poder trabalhar», contou.
Acredita ter «um futuro em vista» e espera que esta experiência lhe permita não ter de «andar à procura de emprego, quando sair da cadeia».
Ainda não sabe se vai ficar depois de cumprir a pena, mas «em pouco tempo» já foi promovido mais do que uma vez e é agora responsável pela secção de acessórios e compras da empresa onde trabalha.
Louva a abertura dos empresários que aderiram a esta iniciativa, porque estão a admitir funcionários que não conhecem e que estão «rotulados pela sociedade».
O empresário Amândio Maduro garante nunca ter tido problemas com os reclusos com quem trabalhou e considera que »o estigma da prisão se combate abrindo as portas e dando apoio«.
Para o director geral dos Serviços Prisionais, Miranda Pereira, a cadeia de Bragança é «um bom exemplo na abertura à comunidade e na ocupação dos reclusos».
Este modelo é aplicado em outros estabelecimentos prisionais e, segundo disse, os pedidos de reclusos para mão-de-obra a nível nacional são muitas vezes superiores à capacidade de resposta.
Sobretudo, segundo explicou, porque a maior parte deles não tem a especialização pretendida pelas empresas.
Os serviços prisionais dão formação profissional dentro das cadeiras, para promover a reintegração dos reclusos, formação esta que têm direccionado para as áreas mais solicitadas pelos empregadores.
No caso de Bragança, um recluso que se encontra a trabalhar numa empresa de electricidade recebeu antes formação específica numa das acções ministradas pelo próprio centro de formação profissional na cadeia vizinha de Izeda.
Diário Digital / Lusa
03-06-2006 14:01:00
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