domingo, 6 de maio de 2007

Lógica de abortista

Jornal do Brasil, 19 de Abril de 2007

 

Lógica de abortista

Olavo de Carvalho

 

“ Nem a ciência nem a religião, afirma o editorial da Folha de S. Paulo do dia 15, podem dar uma resposta satisfatória e universal sobre quando começa a vida -- se na concepção, ao longo do desenvolvimento fetal ou no nascimento.” A premissa está mal formulada, mas, supondo-se que seja verdadeira em essência, a conclusão que dela decorre para qualquer inteligência normal é a seguinte: Como ignoramos se o feto é um ser humano dotado de vida própria ou apenas uma peça do corpo da mãe, também não sabemos se retalhá-lo em pedaços é homicídio ou não; mas sabemos com certeza absoluta que, no presente estado de empate entre as duas possibilidades, todo aborto é uma aposta cega na inocência de um ato que tem cinquenta por cento de chance de ser um homicídio. A própria existência da dúvida impõe, como dever moral incontornável, abster-se desse ato até que a dúvida seja dirimida, se é que algum dia o será.

 

Mas a conclusão da Folha é simetricamente inversa: “A única alternativa é deixar que o direito estabeleça o ponto, que será necessariamente arbitrário.” Ou seja: se ignoramos se o feto é gente ou não é, o legislador pode fazer com ele o que bem entenda. Correr ou não o risco de matar um possível ser humano é apenas uma questão de gosto.

 

É claro que o editorialista não tem a menor consciência da imoralidade do que escreveu. Para uma mente sã, qualquer conduta baseada numa dúvida é dúbia em si mesma; e ninguém tem direito à acção dúbia quando ela põe em risco uma possível vida humana. Mas seria demasiado exigir que cérebros formados num ambiente de artificialismo sufocante compreendessem uma coisa tão simples. Nada destrói mais completamente a intuição moral elementar do que o pedantismo “intelequituau” (para usar o termo do Reinaldo Azevedo) que é o estilo mental inconfundível daquele diário paulista.

Tentando adornar a enormidade com uma afectação de bons sentimentos, o jornal diz que sua preocupação é com as pobres mães que se sujeitam aos riscos do aborto ilegal. E explica: “Segundo a metodologia desenvolvida pelo Instituto Alan Guttmacher, centro de pesquisa de saúde reprodutiva e políticas públicas dos EUA, realizaram-se no Brasil 1,1 milhão de abortos clandestinos em 2005.”

 

Impressionante, não é mesmo? Só que Alan Gutmacher isto a Folha não informa -- foi presidente da Planned Parenthood (PP). Seu instituto não é senão uma organização de fachada dessa entidade que comanda uma enorme rede de clínicas de aborto. Não é uma pura entidade científica. É parte interessada. Segundo: O médico Bernard Nathanson, um dos líderes do movimento abortista americano na década de 70, diz que a PP “é a organização mais perigosa dos Estados Unidos”. É o depoimento de um cúmplice

arrependido: com a ajuda dele próprio, as organizações abortistas americanas falsificaram as estatísticas de abortos clandestinos, de menos de cem mil para mais de um milhão por ano, para forçar a legalização. Essa é a “metodologia” em que a Folha se apoia para enfeitar o absurdo com a falsidade. Diga-me em quem um jornal confia, e eu lhe direi se ele próprio é confiável.

 

 

 

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Nota: As mensagens são seleccionadas pela sua relevância e não necessariamente representam o pensamento da Frente Universitária Lepanto

 

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