segunda-feira, 26 de novembro de 2007

dom Luiz de Orleans e Bragança

Folha de São Paulo São Paulo, Domingo, 25 de Novembro de 2007
Caderno MAIS!

Herdeiro do trono brasileiro e membro da TFP, dom Luiz de Orleans e Bragança
critica historiadores por "denegrirem a imagem" da nobreza
DA REPORTAGEM LOCAL

Não foram só os antichavistas que acharam merecido o "por que não te calas?"
endereçado pelo rei espanhol Juan Carlos ao presidente venezuelano.

Numa grande, porém discreta, casa no bairro do Pacaembu (São Paulo), onde
funciona a sede da Casa Imperial do Brasil, dom Luiz de Orleans e Bragança,
69, viu no episódio um bom sinal.

"A repercussão mundial da fala do rei mostra o carisma que a monarquia ainda
possui. Chávez é um demagogo mal-educado, mas, quando apareceu o rei da
Espanha, com séculos de tradição atrás de si, ele se sentiu inibido", disse,
em entrevista à Folha, na sala decorada com brasões do império.

O príncipe herdeiro da coroa brasileira é um homem de traços europeus e
membro da TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e
Propriedade), instituição ultraconservadora católica.

Dom Luiz é bisneto da princesa Isabel e trineto de dom Pedro II. Nascido na
França, para onde a família real foi obrigada a se exilar por ter sido
banida pela República, veio ao Brasil pela primeira vez quando já tinha 7
anos.

"Lembro-me como se fosse hoje. Foi durante a Segunda Guerra Mundial, e me
recordo das pessoas no navio comemorando quando o Japão pediu a paz. Quando
cheguei ao Rio, havia uma névoa, e só se podiam ver nesgas do Pão de Açúcar.
E eu, que até então me sentia totalmente em casa na França, pensei: "Aqui
nós temos uma missão"."

Imbróglio sucessório

A questão da sucessão do trono brasileiro é bastante controversa. Aquele que
seria o herdeiro directo da coroa depois da princesa Isabel deveria ter sido
seu primogénito, dom Pedro de Alcântara.

Porém, ao decidir casar-se com uma mulher que não pertencia a uma casa
reinante da Europa, ele foi levado a renunciar ao título, que passou
automaticamente a seu irmão mais novo, dom Luiz (avô do actual príncipe).

Os descendentes de ambos passaram a formar então dois ramos, o de Petrópolis
e o de Vassouras, que nunca se entenderam muito bem com relação ao assunto.

O actual chefe da casa de Petrópolis, dom Pedro Gastão, alegou que a renúncia
não era válida, por ter sido pedida depois da Proclamação da República. Já o
ramo de Vassouras, actual detentor do título, defende-se com o argumento de
que a decisão de Alcântara não pode ser revertida.

Bem mais conservador que a linhagem de Petrópolis -à qual pertence, por
exemplo, o festeiro e parlamentarista dom João, de Paraty-, o ramo de
Vassouras dedica-se à divulgação da causa monarquista e à arregimentação de
defensores do regime pelo país.

Em 1987, durante a Assembleia Nacional Constituinte, dom Luiz escreveu
cartas aos parlamentares brasileiros para pedir o fim da cláusula pétrea,
que dizia que não podia ser colocada em discussão a forma republicana de
governo. "Eu defendia que a cláusula era sumamente contrária aos princípios
democráticos que os próprios parlamentares diziam professar. Afinal, era uma
injustiça permitir que o Partido Comunista existisse e não permitir a
existência dos monarquistas."

Já em 1993, quando houve o plebiscito para decidir entre os três
sistemas -presidencialista, parlamentarista e monarquista-, dom Luiz e seus
irmãos se engajaram na luta por este último. Sem considerar o anacronismo de
sua posição, o príncipe segue convencido de que a monarquia tinha chances de
vencer naquela ocasião.

"Tivemos 13% dos votos válidos, e isso sem ter acesso aos meios de
comunicação, como acontece com os partidos. Não pudemos aparecer no horário
político, e o plebiscito foi apresentado à sociedade muito mais como uma
escolha entre parlamentarismo e presidencialismo. Se tivéssemos tido espaço,
o resultado certamente teria sido outro."

Para ele, a forma ideal para o Brasil seria uma monarquia constitucional
parlamentar.

"O ideal seria que o regime tivesse algo de monárquico, algo de
aristocrático e algo de democrático, com um Senado vitalício, uma Câmara de
deputados eleita a cada quatro ou cinco anos, um Judiciário e um Legislativo
independentes e um Executivo exercido por um primeiro-ministro, indicado
pelo soberano, de acordo com a maioria parlamentar do momento. Além do Poder
Moderador, que era algo genial que nossa Constituição do império tinha e que
depois outros países, como a França, quiseram copiar", diz.

Reescrever a história

Dom Luiz é também um entusiasta defensor das iniciativas de dom João VI

"É preciso reforçar que dom João VI não saiu fugido do Brasil, nem que era
um bobalhão, como se diz hoje. As pessoas também falam que era um sujeito
indeciso, mas a verdade é que era um tipo tranquilo, que tocava as coisas
com muita esperteza. Foram impacientes com ele. É verdade que não era um
homem bonito, não podia ser considerado um Adônis, mas até aí..."

Na comemoração dos 200 anos da vinda da família real, dom Luiz diz que
gostaria de ser ouvido e que se pensasse em reescrever os livros escolares
de história. "Houve uma campanha sistemática para denegrir nosso passado
imperial e os grandes vultos desse período. Depois vieram os marxistas, que,
com sua visão dialéctica, só vêem a luta de classes, e nunca a paz." (SYLVIA
COLOMBO)

 

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