Cardeal Cottier: «Igreja deve falar do demônio»
Quarta-Feira, 18 de Janeiro de 2006
Cardeal Cottier: «Igreja deve falar do demónio»
Purpurado de 83 anos e «teólogo do Papa» até Dezembro [2005] passado
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 18 de Janeiro de 2006 (ZENIT.org).
Publicamos a introdução do cardeal Georges Marie Martin Cottier OP --escrita
sendo ainda Teólogo da Casa Pontifícia-- ao livro «Presidente degli
esorcisti - Esperienze e delucidazioni di Don Grabriele Amorth» (Presidente
dos exorcistas - Experiências e esclarecimentos de Gabriel Amorth),
recém-publicado por «Edizione Carismatici Francescani».
O padre Gabriel Amorth é exorcista da diocese de Roma, fundador e presidente
honorário da Associação Internacional de Exorcistas.
* * *
A Igreja deve falar do demónio. Pecando, o anjo decaído não perdeu todo o
poder que tinha, segundo o plano de Deus, no governo do mundo. Agora utiliza
este poder para o mal. O Evangelho de João o chama: «o príncipe deste mundo»
(Jo 12, 31) e na primeira carta também de João se lê: «O mundo inteiro está
sob o poder do Maligno» (1 Jo 5, 19). Paulo fala de nossa batalha contra as
potências espirituais (CF. Ef. 6, 10-17). Podemos também nos remeter ao
Apocalipse.
Temos que combater as forças do mal não só humanas, mas também sobre-humanas
em sua origem e inspiração: basta pensar em Auschwitz, nos massacres de
povos inteiros, em todos os horrendos crimes que se cometem, nos escândalos
dos que são vítimas os pequenos e os inocentes, no êxito das ideologias de
morte, etc.
É oportuno recordar alguns princípios. O mal do pecado é realizado por uma
vontade livre. Só Deus pode penetrar no profundo do coração da pessoa; o
demónio não tem o poder de entrar neste sacrário. Actua somente no exterior,
sobre a imaginação e sobre os afectos de raiz sensível. Ademais, sua acção
está limitada pela permissão de Deus omnipotente.
O diabo actua geralmente através da tentação e do engano, é mentiroso (Cf. Jo
8, 44). Pode enganar, induzir ao erro, iludir e, provavelmente mais que
suscitar, pode secundar os vícios e os germens de vícios que estão em nós.
Nos Evangelhos sinópticos, a primeira aparição do demónio é a tentação no
deserto, quando submete Jesus a várias incursões (Cf. Mt 4, 11 e Lc 4,
1-13). Este fato é de grande importância.
Jesus curava enfermidades e patologias. Referem-se no conjunto ao demónio,
porque todas as desordens que afligem a humanidade são reduzíveis ao pecado,
do qual o demónio é o instigador. Entre os milagres de Jesus há libertações
de possessões diabólicas, no sentido preciso.
O demónio é muito mais perigoso como tentador que através de sinais
extraordinários ou manifestações exteriores assombrosas, porque o mal mais
grave é o pecado. Não por acaso, na oração do Senhor pedimos: Não nos deixe
cair
oração, a prudência, na humildade, conhecendo a fragilidade da liberdade
humana, com o recurso aos sacramentos, antes de tudo a Reconciliação e a
Eucaristia. Deve também pedir ao Espírito Santo o dom de discernimento,
sabendo que os dons do Espírito Santo se recebem com a graça do Baptismo.
São Tomás e São João da Cruz afirmam que temos três tentadores: o demónio, o
mundo (reconhecemos certamente em nossa sociedade) e nós mesmos, ou seja, o
amor próprio. São João da Cruz diz que o tentador mais perigoso somos nós
mesmos, porque nos enganamos sozinhos.
Frente ao engano, é desejável nos fiéis católicos um conhecimento cada vez
mais profundo da doutrina cristã. Deve-se promover o apostolado pelo
Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, de extraordinária utilidade para
combater a ignorância. O demónio talvez é instigador desta ignorância:
distrai o homem de Deus, e é uma grande perda que se pode conter promovendo
um adequado apostolado nos meios de comunicação social, em particular
televisivos, considerando a quantidade de tempo que muitas pessoas gastam
acompanhando os programas de televisão, frequentemente de conteúdos
culturalmente inconsistentes ou imorais.
Também contra os homens de Igreja se desencadeia a acção do diabo: em 1972, o
Sumo Pontífice Paulo VI falou dos «ares de Satanás introduzidos no templo de
Deus», aludindo aos pecados dos cristãos, à desvalorização da moralidade dos
costumes e às decadências (consideremos a história das Ordens e das
Congregações religiosas, nas quais se tem notado sempre a exigência de
reformas para reagir à decadência), ao ceder nas tentações na busca da
carreira, de dinheiro e de riqueza, em que podem incorres os próprios
membros do clero, cometendo pecados que provocam escândalo.
O exorcista pode ser um Bom Samaritano --mas não é o Bom Samaritano-- pois o
pecado é uma realidade mais grave. Um pecador que permanece assentado em seu
pecado é mais infeliz que um possuído. A conversão do coração é a mais bela
vitória sobre a influência de Satanás, contra a qual o Sacramento da
Reconciliação tem uma importância absolutamente central, porque no mistério
da Redenção Deus nos libertou do pecado, e nos presenteia, quando caímos, o
reencontro de Sua amizade.
Os Sacramentos têm na verdade uma prioridade sobre os sacramentais,
categoria na qual se incluem os exorcismos, que são pedidos pela Igreja, mas
em ordem não prioritária. Se não se considera esta característica, subsiste
o risco de turvar os fiéis. Não se pode considerar o exorcismo como a única
defesa contra a acção do demónio, mas como um meio espiritual necessário em
que se contactou a existência de casos específicos de possessão diabólica.
Parece que os possuídos são mais numerosos nos países pagãos, onde o
Evangelho não foi difundido e onde estão mais estendidas as práticas
mágicas. Em outros lugares, um elemento cultural perdura ali onde os
cristãos conservam uma tendência indulgente com respeito a antigas formas de
superstição. Ademais, há que considerar que supostos casos de possessão
podem ser explicados pela medicina actual e a psiquiatria, e que a solução
para determinados fenómenos pode consistir em um bom tratamento
psiquiátrico. Quando se manifesta na prática um caso difícil, é necessário
pôr-se em contacto com um psicólogo e um exorcista; é aconselhável valer-se
de psiquiatras de formação católica.
No Ateneu Pontifício Regina Apostolorum instituiu-se recentemente um curso
sobre estas temáticas. Sobre elas parece oportuna uma formação adequada nos
seminários, em uma dimensão de equilíbrio e sabedoria, evitando excessos e
constrições.
Cardeal Georges Cottier, O.P. Pro-teólogo da Casa Pontifícia
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